terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tudo conforme o combinado

O combinado era que os dois se amassem por toda a vida.
Mas o por toda a vida se tornou um pouco mais curto, coisa de duas semanas, mais ou menos. Não que a promessa tenha sido em vão, muito pelo contrário, ele a amou por toda a vida dela. Cada segundo mágico, cada minuto interminável, cada hora que passou voando.
Não chovia até até aquele momento. Mas dali para frente a chuva não parava, ora vinha do céu, ora vinha dos olhos dele em forma de lágrimas. Lágrimas salgadas e frias, que vez ou outra, a chuva lavava.
A última palavra foi um grito abafado pelo silêncio do medo e pelo barulho de aço sendo retorcido. Depois só se ouviu sirenes e pessimismo. Ele chegou no local mais rápido do que podia sonhar em chegar um dia. Mas já era tarde. Já não havia o que fazer. Apenas, pegá-la pela mão, sentir toda frieza de um corpo sem vida e se agarrar a aliança como se isso fosse a reviver.
Ele a amou até aquele segundo, até o momento em que já não se podia fazer mais nada. E amou além também. Sofreu alguns meses. Sentia aquela ausência sufocante em todos os cômodos da nova casa. Ria ao ver aquela cortina vermelha que ele odiava, mas que ela adorava. Olhava para o albúm de casamento como se fosse possível voltar naquele tempo, parar ali e impedir que o pior acontecesse. Mas isto também passou.
Vendeu a casa, vendeu o carro, deu o cachorro para os pais e recomeçou. Algumas saídas com os amigos, outras com futuras pretendentes - Todas sem graça, é claro. E o tempo foi passando e o luto também. ele voltou a sorrir, a alegria já era uma constância e as fotos antigas tinham perdido espaço para as novas lembranças. Inclusive para o beijo que roubou de uma "amiga" após algumas doses de uma bebida colorida que ele nem se lembrava existir.
Tempos depois já estava gostando dela. Mas sentia medo de fazer planos e preferia não fazê-los. O tempo foi passando, a vida foi mudando. Mais responsabilidades, mais amizades e enfim, mais comprometimento. Decidiram se casar. Para ele uma segunda chance, para ela uma nova fase. Assim fizeram, se casaram e prometeram se amar por toda a vida. E tudo foi conforme o combinado, 2 semanas depois, lá estava ela, tentando entender tudo que estava acontecendo. Viu o corpo dele sem vida pela primeira vez e com força apertava a sua mão. Pegou sua aliança e apertou forte, como se isto o fosse trazer de volta a vida. Mas não trouxe, e ela chorou como nunca havia chorado, mas sentia-se leve por ter feito tudo conforme o combinado, por o ter o amado até que a morte os separe.