Estava passeando por aí, como quem não quer dizer nem bom dia, tampouco, ser gentil e cortês logo nas primeiras horas. Mas ninguém estranhava tal atitude, pois, Odair sempre foi assim. Cara quieto, de poucas palavras e ainda menos amigos. Há quem pense que ele é deste jeito por não ser amado. Afinal, passava dos 50 e não era casado. Também tem aquele que pense o contrário, que ele não era casado porque era assim. Eram tantas teorias a respeito de Odair que seu mau-humor característico e seu sarcasmo irreparável eram conhecidas por todos de sua cidade. Nem sempre estava com a razão, mas tinha lá seus momentos de sabedoria absoluta.
Certa vez, numa reunião com a família, foi questionado por todos porque nunca havia se casado, e tampouco ter filhos. Sereno como um pata e convicto como um líder guerrilheiro ele sacava suas respostas.
- Primeiro, não casei porque prefiro estar sozinho. E não tive filhos porque é algo difícil de compreender. Você passa dois anos ensinando o bichinho falar e andar, e depois o resto da vida mandando ele fiquer quieto e calar a boca.
Ele também não gostava muito de crianças porque de acordo com ele, elas perguntavam demais. Certa vez, surgiu o seguinte diálogo, verídico, contado por ele mesmo e aconteceu numa das visitas à casa de sua irmã que tinha um filho de pouca idade, mas muito sagaz.
- Tio, porque os meninos estão usando calça rosa?
- Porque eles são um bando de viadinhos.
- Porque eles são viadinhos?
- Porque eles não gostam de meninas.
- Mas eu também não gosto das meninas, elas são chatas. Também posso ser um viadinho?
- Pode.
Ato repreensível, mas ele não queria prolongar aquela conversa sobre sexualidade, até mesmo porque, ele só entendia que homem é homem, mulher é mulher e o resto era viadagem.
O mesmo tato e senso de sensibilidade ele tinha com as mulheres. Certa vez, comprou flores para a namorada. Margaridas. Bom, há quem goste, mas ela, achava que eram flores de gente morta. Mas, para Odair, flor era flor e pronto. Ele não se ofendeu com a desfeita, mas, não quis mais saber de romance.
Por falar em morte, no velório de uma cunhada,um colega de trabalho, tentando puxar assunto começou:
- Como é a vida né?! Ontem mesmo eu a vi, e ela estava completamente feliz.
- A é?! E ela parece feliz agora? Parece que você tê-la visto não impediu que aquele piano caísse sobre ela, não é mesmo?
Odair era um cara assim, sem meis palavras e sem meios termos. Era tudo demais, ou de menos. Mas, Odair era um cara feliz. Um dia, na véspera do jogo do seu time do coração, foi lá e comprou um caixa de foguetes. Era final de campeonato, e o time vinha embalado. O time perdeu, mas Odair festejou com os foguetes, soltando-os em direção aos torcedores do time rival que passavam em frente a sua casa. Ninguém nunca viu Odair tão feliz assim. Cada tiro que pegava, era uma gargalhada sem precedentes.
Mas, há quem diga, que há uma mulher capaz de amolecer o coração do Odair. Seu nome era Solange, uma quarentona bem de vida, que morava há algumas ruas de sua casa e constantemente contratava os serviços de Odair - Cabe aqui, explicar que Odair era exterminador de pragas, baratas, ratos e outras coisas mais. De duas uma, ou os dois matavam os bixos aos gritos, ou então, algo mais estava acontecendo.
Mas, Odair não assumia o romance, dizia que mulher na fase dos "enta" não prestava, que no máximo, no máximo 39. Mesmo já não sendo jovem, sempre dizia que odiava velho. Velho, puta e Puta Velha, eram três coisas que Odair não suportava. Velhos porque sempre o passavam para trás em qualquer tipo de fila, fila do banco, do supermercado, do pão, do Hospital, até mesmo da zona. Não gostava de Puta porque cobrava por aquilo que muita gente dá de graça e não gostava ainda mais das Putas Velhas porque estas cobravam e ainda colocavam o produto como sendo novidade no mercado.
Um dia perguntei ao Odair, se o que ele achava do amor. Com toda sinceridade e serenidade do mundo, ele olhou por cima dos óculos, alisou aquela barriga enorme, passou a mão na careca vistosa e disse algo do tipo:
- Amor? Amor que nada!
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