sábado, 1 de outubro de 2011

Deus e a Família

Há muito tempo atrás, há exatamente 10 anos, fui convidado a escrever uma redação com o título de "Deus e Família em Minha Vida". Na época, tinha 16 anos, muitos sonhos e planos, receios escondidos e orgulhos ostentados como se fossem troféus. 10 anos depois, fui convidado a refletir novamente sobre o mesmo assunto.

Uma coisa que pude perceber, é que, quando chegamos na fase adulta, temos o péssimo hábito de esquecer de ser filho. Na verdade, não é algo que nós rejeitamos voluntariamente, simplesmente acontece, às vezes, até mesmo por pressão dos nossos pais, e principalmente, por imposição da sociedade. Atualmente, aos 15 anos, já somos impulsionados a decidir todo nosso futuro profissional, somos pressionados a fazer cursinho pré-vestibular, escolher uma profissão, conseguir vagas nas melhores faculdades para conseguir os melhores salários, ser o primeiro em tudo, arranjar uma namorada (ou namorado), pensar no futuro, e por aí vai. Tudo isto, faz com que esqueçamos do principal que é ser filhos.

Ser filho é mais do que simplesmente ter pai e mãe, ser filho é se colocar na dependência de outra pessoa. Não só fisicamente, como espiritualmente. Partimos da verdade, que somos todos filhos de Deus, e quando dizemos isto, devemos agir como dependentes dEle. Não é apenas, dizer "Pai nosso que estais no céu" e querer ser dono do próprio destino. Na bíblia, temos a parábola do filho pródigo, que conta a história do filho que pegou sua parte da herança, caiu no mundo, e depois que tudo dá errado, volta arrependido para os braços do pai. Assim somos nós, quando queremos deixar de ser filhos, para fazermos nossas vontades, perdemos a proteção do pai. Por um tempo tudo é festa, diversão e maravilhas, mas, cedo ou tarde, a vida nos mostra que sempre seremos filhos. Então temos duas opções, voltamos para casa do Pai ou vivemos uma vida dura e amargurada.

Temos que, de fato, andar na contra-mão do mundo. Ignorar as vozes que nos direcionam para o impulso de deixar de ser filhos, e buscar sempre o abrigo da casa do Pai. Temos que nos colocar na dependência dos nossos pais e de Deus, e não ter vergonha de demonstrar este amor. É termos a oportunidade de abraçar nossos pais, ouvir seus conselhos com paciência, buscar a voz de Deus na fala destas pessoas que foram colocadas a serviço dEle para cuidar de nós aqui na Terra e, principalmente, não ser orgulhoso de pedir e liberar perdão para essas pessoas marivilhosas que, quando erram, fazem isto tentando acertar.

Amor é uma coisa... gratidão é outra.

Aprendi com o tempo, que quando se trata de amor, não existe fazer o certo ou errado. Não existe um sistema repleto de processos que causam este ou aquele efeito. O amor é imprevisível, para encontrá-lo você precisa ser levado por ele e não tentar conduzi-lo. Fazer algo para receber o amor de alguém, é totalmente dispensável, o amor é uma coisa, gratidão é outra.

Não são raras as vezes que escutei (ou disse): "Fiz tudo certo, agi da melhor maneira possível, tive sucesso em tudo que fiz, mas o amor me rejeita". Estas afirmações são típicas de pessoas que acreditam na meritrocácia, que fazem do amor uma fórmula matemática. Mas, repito, amor é uma coisa, gratidão é outra.

Felizes são aqueles que se entregam a outra pessoa com desprendimento e sem esperas por recompensas. Todos os demais, podem até encontrar a felicidade ao lado de outra pessoa. Mas, nunca o amor. Pois o amor não julga o bem e o mal, ele está acima destas questões. Ele apenas é o que é, não precisa de razões para existir.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pensamentos Esparsos

Existem três tipos de pessoas: As racionais, as emotivas e as felizes. As felizes não se preocupam em estar certas o tempo todo, nem em fazer apenas o que o coração manda. Na verdade estas pessoas apenas flutuam entre o campo da razão e da emoção. É nesta posição confortável onde consegue-se andar pelos dois caminhos que estamos disponíveis para ser encontrados pela felicidade. Todo o resto é apenas ilusão.

Ilude-se aquele que pensa que pode ser feliz tomando apenas decisões racionais. A vida não é matemática para ser simplificada em fórmulas de sucesso. Se fustra aquele que pensa que encontrará a felicidade fazendo tudo o que, RACIONALMENTE, é o mais certo. Também se frustra aquele que segue apenas seu coração, acreditando que a vida abençoa aqueles que amam e que nunca lhe deixará faltar nada.

Feliz é aquele que conegue conciliar as duas coisas, que consegue satisfazer os desejos do coração sem tirar os pés do chão, que consegue ver uma razão escondida por trás dos delírios sentimentais. A vida não é matemática, a vida é como a poesia. Algumas não foram feitas para serem entendidas, apenas contempladas e sentidas.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Breve comentário

Não curto gente que defende a imagem de um Deus vingativo que vai te castigar por tudo que fizer e que você tem que aceitar Jesus na marra. Prefiro o meu, que me perdoa por ser imperfeito, me abençoa para que eu possa ser grato, que me dá sabedoria para que eu não faça o mal, que me dá discernimento para saber o que é da vontade Dele e o que não é e que me dá forças para seguir o caminho de Jesus!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

AMAR A SAUDADE

Aprendi que o amor se manifesta diferente quando estamos distantes. Às vezes, chamamos apenas de saudade. Mas, não é só saudade. Amar a distância é amar uma espera, é amar algo que ainda está para acontecer. Amo a minha noiva, pois a conheci de perto e vivi com ela ótimos momentos. Agora, aprendo a amá-la, pelo que ainda poderemos viver. Pelas histórias não contadas e pelos silêncios não aproveitados.

Aprendo a amar cada dia, o abraço que vou receber, o beijo que irei dar e o cheiro de seu perfume que irei sentir. Aprendo a sonhar mais alto, não o sonho de um dia sermos um apenas. Mas, o sonho de sabe-se quando seremos um. Não adianta mais querer planejar, temos que caminhar junto com o tempo, junto com nossas transformações, e que não são poucas. Temos que pensar não mais em daqui uma semana, mas daqui a um mês, 1 ano, 4 anos.

Mas ainda prefiro amar a saudade, a amaldiçoa-la. A mesma expectativa que me anseia, é a expectativa que me faz querer avançar. A mesma ansiedade que me aprisiona, é a que me faz querer ser mais forte e melhor. Porque a saudade, um dia a gente mata, basta saber ser paciente e esperar. A saudade nos obriga a conhecer melhor nosssos limites e nos mostra quais são os limites do outro. Amaldiçoa-la, porque ela nos fere e marca, não adianta. Por isto, quero aprender a amar a saudade.

Melhor amar a saudade do que conviver com a perda. Melhor esperar o que sabemos que é nosso chegar no momento certo, do que corrermos atrás, ansiear-se demais e atrapalhar o andamento do amor. Porque o amor é bondoso e paciente, mas também nos exige que sejamos assim. Penso que lidar com saudade, seja como esperar um prato delicioso que leva muito tempo para ser preparado. Se apressamos as coisas, a comida estraga. Se esperamos o tempo certo, nos deliciamos de um saboroso banquete.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Coisa de Gente que se Ama

Ela diz: Quero ver o filme.
Ele diz: Dá pra baixar na net
Ela diz: Então baixa e grava pra mim
Ele diz: Mas pra que?! É só você baixar aí.
Ela diz: Mas dá pra baixar e me mandar o DVD?
Ele diz: Mas não é mais fácil você simplesmente baixar e ver?
Ela diz: Então tá! Não quero mais assistir filme nenhum.
Ele diz: Uai gente, mas não é só assistir o filme?
Ela diz: Não quero mais.
Ele diz: Então tá, eu gravo pra você.
Ela diz: Então grava.
Ele diz: Ah tá, entendi. Você não quer ver o filme, quer ganhar ele de presente.
Ela diz: É, deve ser isto.
Ele diz: Então era só ter dito isto, ver o filme é uma coisa, ganhar de presente é outra. Mas, gravo e te mando então.
Ela diz: Ah... grava e me manda só isso.
Ele pensa: Vai entender! Mas amo mesmo assim!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Versos Esparsos

Quando o tudo ainda é pouco
e o pouco se torna impossível
Um sentimento solitário
torna o amável desprezível

Transforma o sonho em pesadelo
e o coração se trai pelo desejo
Transforma a esperança
em uma ordem de despejo

A mente se esvazia
o corpo se transforma
e o coração se esfria

O mundo se agiganta
e nada mais gira como antes
Tudo agora é lento
e nada dura tanto quanto a tortura

Tortuosos pensamentos
que levam a um só lamento
Não de ter amado demais
mas por não estar sempre atento

Um amor dura o tanto que tem que durar
infeliz aquele que pensa que pode adiar
Por dois dias, ou dois meses
o que tem que acabar

Feliz aquele que acredita
insiste, luta e reluta
em não por fim ao que tanto ama
e mesmo na morte, seu amor declama.

Feliz desfecho, este que desejo
que o que acreditava ser desamor
seja apenas mais um desafio
desta coisa louca chamada amor

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Soneto do Papel Amassado

Amassei um papel
sabendo que não deveria
tentei desamassar
mas não ficou como queria

Passei a ferro
passei prancha
mas nem por tudo que é sagrado
a marca das dobras se desmancha

O amor também é assim
Fácil de estragar
difícil de concertar

Todo cuidado pode até enganar
mas um coração maltrado
nunca volta a amar

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Soneto p/ Ex-namorada(o)

Porque teima em visitar meu sonhos,
Se há tempos não faz parte dos meus planos?
Porque teima em querer me fazer acreditar,
que fomos feito um pro outro, e que nos amamos?

Por que não vai sonhar seus sonhos
e me deixa em paz?
Só quero dormir e sonhar
com tudo que me satisfaz

Tudo acabou e não há porque sonhar
nem com as coisas que vivemos,
tampouco com o que nunca acontecerá.

Só quero uma solução
para de tirar da cabeça
como lhe tirei do coração

Soneto das Fadas

Nunca gostei de conto de fada
coisa estranha e mal-contada
Estórias mentirosas
que falam de amar e ser amada

Não existe príncipe encatado
Não existe felizes para sempre
Nem coisinha de experimentar sapato
e muito menos de beijar sapo

Nos contos, ao contrário da vida
o amor sempre encontra
quem tem a história mais sofrida

Depois vem a decepção
porque quem se faz de vítima na vida
acaba na solidão

domingo, 22 de maio de 2011

Soneto Caipira

Já gostei, certa vez,
de dupla caipira
daqueles que cantam a tristeza
mas se lembram da alegria

Mas inventaram outro dia
um novo sertanejo
que do meu gosto musical
só ganhou meu desprezo

São músicas quase iguais
sem história e sem enredo
sem verdades e sem segredo

Saudade daqueles caipiras
como aqueles já "antigos"
Sá, Rodrix e Guarabira

sábado, 21 de maio de 2011

Soneto do Carro Velho

Bate a chave, o motor não liga
repete a cena e o motor encena
na terceira vez o rádio desliga
na quarta a marcha não engrena

Na quinta, aí sim
anda 100 metros sem parar
finge gostar de mim
e o motor começa a engasgar

Na sexta, que desespero
o carro arranca ligeiro
mas, já está sem freio

Na sétima, eu peço arrego
choro e imploro com clamor
mas ele não atende a meu apelo

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Soneto da Solidão

Uma taça de vinho
jazz ao fundo
na mesa um queijo fino
e na memória um filme mudo

Na troca de músicas
o silêncio é atormentante
Se lembra de suas musas
e de coisas vividas antes

Juventude que passou voando
perdida no dia-a-dia
de quem vive sem fazer plano

Agora o que lhe restou
solidão, vinho, queijo
e um solo de piano

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Soneto do Desespero

É madrugada,
e amanhã se avizinha
as luzes se acedem
e ela ainda está sozinha

Não tinha nada de linda
nem nada de simpática
mas após muita bebida
ele já sabia a tática

Com passos decisivos
com coragem no coração
e muita determinação

Tomou-a em seus braços
e pôs fim a seus desesperados
5 anos de solidão

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Soneto dos Santos

Pra tudo tem remédio
e se não tem, o santo intervém
Tem santo para casar, e para divorciar
e se faltou dinheiro, é só começar a rezar

Santo Antônio casamenteiro
me dê um marido que tenha dinheiro
Santa Ediwiges, protetora dos endividados
para sair do SPC, me empreste uns trocados

São longuinho, São Longuinho
Me ache um bilhete premiado
que eu dou três pulinhos.

Se a oração não adiantar
um conselho eu vou dar:
Vá logo, começar a trabalhar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Soneto Sem Sentido

Tudo tem um fim.
Não é mentira, ou superstição.
Nem verdade absoluta, ou suprema razão.
Tudo termina. Queira ou não.

Tudo tem um fim.
O sexo para quem deseja.
O amor para quem sonha.
O sucesso apra quem almeja.

Tudo tem uma finalidade qualquer.
Seja para satisfazer o homem ou,
para fazer apaixonar uma mulher.

Mas nada se justifica.
Nem o desamor de quem vai,
nem a paixão extrema de quem fica.

Soneto do Miojo

De miojo eu gosto muito
fica pronto em três minutos
não é tão saudável e nem tão bom
mas, repito, fica pronto em três minutos

Tem de carne e de galinha
Nada sofisticado ou elegante
Mas come-se à noite ou de dia
e fica pronto em um instante

Mas o bom é o caldinho
embebeço o pão velho
até ficar molhadinho

Do miojo não faço desfeita
pois na hora do aperto
é a refeição perfeita

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Soneto para Papai do Céu

Papai do céu
que me guarda e protege
guia meus passos
e no meu caminho me segue

Quando eu vou dormir
ele conta tin-tin por tin-tin
sobre o pedacinho do céu
guardado para mim

Ele me balança nos braços
canta musiquinhas
e me põe na cama com cuidado

Tranquila, durmo então.
Pois papai do céu
me protege do bicho-papão!

domingo, 15 de maio de 2011

Soneto do Emoticon

Na telinha do computador
a meninha ria e sorria
do outro lado, aposto,
nem uma risadinha saia

A menininha do desenho
tinha o cabelo encaracolado
do outro lado, aposto,
o cabelo estava escovado

Escrevi rapidinho
e mostrei para Fernanda
como é fácil rimar

Neste sonetinho inspirado
em um emote que só dizia
Cá, Cá, Cá - Cá, Cá Cá!

sábado, 14 de maio de 2011

Soneto da Fotografia

Na foto antiga
uma criança sorria
Sorriso descontraído
de quem não sofria

Na folha seguinte
o sorriso escondia
o motivo era
o dente que caia

Na outra o sorriso sumiu
e nem havia alegria
tristeza enfim?

Que nada!
Feliz ainda era
Mas a inocência sumira!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Soneto do Dia Ruim

Hoje o dia acordou ruim
tudo feio e sem cor
bem chato assim
mas pra frente eu vou

Tropecei no cachorro
troquei de sapato
gritei por socorro
porque dei de cara com um sapo

No ônibus "que alegria"
encontrei com uma velha tia
que há muito tempo não via

Conversamos por dois minutos
e só depois de muito tempo
percebi que não a conhecia

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Soneto da Bala

Pode ser dura ou macia
zero açúcar ou de fruta
pode ser recheada ou vazia
só não gosto da que gruda

A chamo de pirulito
se for no palitinho
se for miudinha
que venha no potinho

Se vier de graça
aí então,
é minha alegria

Se for de troco,
paro e penso:
que bela porcaria

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O fim

Quando ela se casar
tudo vai ser lindo e perfeito
no chão rosas brancas e vermelhas
e toda a alegria do mundo no peito

Quando ela se casar
vai sorrir querendo chorar
vai mostrar nos olhos
o mesmo brilho que 0 fez apaixonar

Vai ser um dia especial!
Amigos e parentes reunidos
para este fim tão natural

Ela vai estar feliz e sem pudor
pois provou a todo mundo
que, de novo, venceu o amor

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ainda estou aqui!

No meu pensamento
um velho sorriso sorri para mim
um sorriso calmo e sereno
felicidade enfim.

Quase não dá pra ver mais nada
e tampouco dá para ouvir
um sorriso mudo
sem começo e nem fim

Quando começo a me acostumar
tudo começa a mudar
e o sorriso começa a se apagar

O sorriso termina em fim
mas a felicidade ainda está lá
na espera por mim.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tudo em seu lugar

Estava passeando por aí, como quem não quer dizer nem bom dia, tampouco, ser gentil e cortês logo nas primeiras horas. Mas ninguém estranhava tal atitude, pois, Odair sempre foi assim. Cara quieto, de poucas palavras e ainda menos amigos. Há quem pense que ele é deste jeito por não ser amado. Afinal, passava dos 50 e não era casado. Também tem aquele que pense o contrário, que ele não era casado porque era assim. Eram tantas teorias a respeito de Odair que seu mau-humor característico e seu sarcasmo irreparável eram conhecidas por todos de sua cidade. Nem sempre estava com a razão, mas tinha lá seus momentos de sabedoria absoluta.

Certa vez, numa reunião com a família, foi questionado por todos porque nunca havia se casado, e tampouco ter filhos. Sereno como um pata e convicto como um líder guerrilheiro ele sacava suas respostas.

- Primeiro, não casei porque prefiro estar sozinho. E não tive filhos porque é algo difícil de compreender. Você passa dois anos ensinando o bichinho falar e andar, e depois o resto da vida mandando ele fiquer quieto e calar a boca.

Ele também não gostava muito de crianças porque de acordo com ele, elas perguntavam demais. Certa vez, surgiu o seguinte diálogo, verídico, contado por ele mesmo e aconteceu numa das visitas à casa de sua irmã que tinha um filho de pouca idade, mas muito sagaz.

- Tio, porque os meninos estão usando calça rosa?
- Porque eles são um bando de viadinhos.
- Porque eles são viadinhos?
- Porque eles não gostam de meninas.
- Mas eu também não gosto das meninas, elas são chatas. Também posso ser um viadinho?
- Pode.

Ato repreensível, mas ele não queria prolongar aquela conversa sobre sexualidade, até mesmo porque, ele só entendia que homem é homem, mulher é mulher e o resto era viadagem.

O mesmo tato e senso de sensibilidade ele tinha com as mulheres. Certa vez, comprou flores para a namorada. Margaridas. Bom, há quem goste, mas ela, achava que eram flores de gente morta. Mas, para Odair, flor era flor e pronto. Ele não se ofendeu com a desfeita, mas, não quis mais saber de romance.

Por falar em morte, no velório de uma cunhada,um colega de trabalho, tentando puxar assunto começou:

- Como é a vida né?! Ontem mesmo eu a vi, e ela estava completamente feliz.
- A é?! E ela parece feliz agora? Parece que você tê-la visto não impediu que aquele piano caísse sobre ela, não é mesmo?

Odair era um cara assim, sem meis palavras e sem meios termos. Era tudo demais, ou de menos. Mas, Odair era um cara feliz. Um dia, na véspera do jogo do seu time do coração, foi lá e comprou um caixa de foguetes. Era final de campeonato, e o time vinha embalado. O time perdeu, mas Odair festejou com os foguetes, soltando-os em direção aos torcedores do time rival que passavam em frente a sua casa. Ninguém nunca viu Odair tão feliz assim. Cada tiro que pegava, era uma gargalhada sem precedentes.

Mas, há quem diga, que há uma mulher capaz de amolecer o coração do Odair. Seu nome era Solange, uma quarentona bem de vida, que morava há algumas ruas de sua casa e constantemente contratava os serviços de Odair - Cabe aqui, explicar que Odair era exterminador de pragas, baratas, ratos e outras coisas mais. De duas uma, ou os dois matavam os bixos aos gritos, ou então, algo mais estava acontecendo.

Mas, Odair não assumia o romance, dizia que mulher na fase dos "enta" não prestava, que no máximo, no máximo 39. Mesmo já não sendo jovem, sempre dizia que odiava velho. Velho, puta e Puta Velha, eram três coisas que Odair não suportava. Velhos porque sempre o passavam para trás em qualquer tipo de fila, fila do banco, do supermercado, do pão, do Hospital, até mesmo da zona. Não gostava de Puta porque cobrava por aquilo que muita gente dá de graça e não gostava ainda mais das Putas Velhas porque estas cobravam e ainda colocavam o produto como sendo novidade no mercado.

Um dia perguntei ao Odair, se o que ele achava do amor. Com toda sinceridade e serenidade do mundo, ele olhou por cima dos óculos, alisou aquela barriga enorme, passou a mão na careca vistosa e disse algo do tipo:

- Amor? Amor que nada!

terça-feira, 22 de março de 2011

Vontade de Você

Vontade de Você

Hoje eu acordei com vontade de você. Vontade de te ver. Vontade, simplesmente, sem por que ou para que. Vontade de ter sua cabeça repousada em meu peito e poder sentir o cheiro dos seus cabelos. Vontade de poder ouvir, no silêncio de nossas palavras, tudo que você não me dizia. Acordei com vontade de poder voltar no tempo e não cometer os mesmos erros e poder consertar no momento exato em que as coisas começaram a mudar. Acordei com vontade de ligar e ouvir sua voz. Acordei não querendo ter todas essas vontades, mas elas simplesmente vieram, como se uma barreira se rompesse e o rio das emoções voltasse a correr de forma devastadora.

Hoje eu acordei pensando em como poderia ter sido, pensando nos “Se´s” que mudariam tudo. Se eu não tivesse ficado desempregado, se eu não tivesse começado a entrar em depressão, se eu não tivesse me apegado, se eu tivesse dado mais espaço. E esse é o problema do “se”, só pensamos nele quando é tarde demais. Hoje eu acordei com a esperança de que você também estivesse pensando em mim como pensou um dia. Hoje eu acordei sem medo de sua rejeição. Hoje eu acordei sem medo de ser eu e dos meus sentimentos. Hoje acordei sem culpa de incomodar você. Hoje eu acordei sem tempo para pedir desculpas por não ter evitado o que aconteceu. Hoje eu acordei querendo fazer o que não fiz quando tudo terminou, acordei querendo lutar por você.

Hoje eu acordei com a estranha sensação que o dia seria diferente. Hoje eu acordei querendo dizer todas essas coisas e ter uma resposta. Hoje eu resolvi parar de fingir que não existe mais amor. Hoje descobri que tenho dificuldade para assimilar coisas que mudam rápido demais, como por exemplo, a velocidade com que seus sentimentos mudaram. Hoje acordei sem medo de ser destratado.

Por hoje me esqueci da minha nova realidade, nem mais triste, nem mais feliz, nem mais calma, nem mais louca, apenas diferente. Somente por hoje permito-me escrever essas coisas e não criar a esperança de que tudo mude. Somente por hoje, deixo aflorar esse sentimento que há tanto tempo estava guardado. Somente por hoje, permito-me lutar por uma causa perdida. Somente hoje, faço o que devia ter feito há tempos atrás.

Isto tudo porque hoje acordei assim: com vontade de você. Acordei com o único desejo de que a minha loucura de te procurar seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade, também.


Este e outros textos você encontra no Livro "Escritos Esparsos" (mais informações:clique aqqui)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Confiar(?)

Fico espantado com a capacidade das pessoas em crer em especulações, boatos e fofocas e não acreditar naquilo que realmente sente ou sabe. Já vi e vivenciei muitas situações em que as pessoas confiam umas nas outras até o momento em que um Zé Ninguém qualquer diz algo que plante a dúvida.

É um comentário aqui, uma mensagem no celular mal-explicada ali, um telefonema, diga-se de passagem, não atendido lá. E as desconfianças começam. E a desconfiança cega para o mais importante: o que um sente pelo outro. O que desconfia põe em check a fidelidade e o amor do companheiro, o que é “acusado” se sente ferido por ter seus sentimentos questionados e aí começa o fim.

Não que devamos ser cegos de amor, fechar os olhos para realidades latentes, tipo uma traição visível, ou ainda, indícios fortíssimos de que o amor de sua vida, não é só o SEU amor, mas também de outra pessoa. Mas, o benefício da dúvida e pagar para ver, são atitudes dignas daquele que ama e acredita no relacionamento.

Já vi e ouvi muitos casos de verdadeiras paranóias quanto a fidelidade do namorado(a) ou marido(esposa). Mas todas elas se baseiam em uma coisa, a falta de confiança um no outro, e na maioria das vezes infundada. Quem ama não trai, e quem não ama o outro, não é merecedor do amor de ninguém. Então, o preferível é confiar. Confiar com um pé atrás que seja. Confiar, mas não deixar de estar atento aos sinais de que algo está fora do lugar.

Mas se confiar não é se cegar, o que fazer quando as suspeitas se tornam reais? Para estes casos, só duas opções. Ou ame de verdade, perdoe, volte a confiar e seja feliz. Ou então, termine tudo e procure alguém que lhe dê valor. Ser morno não ajuda em nada. Dizer que perdoou e não voltar a confiar, é o mesmo que tomar pequenas doses diárias de veneno, que lentamente, vão prejudicar ainda mais o relacionamento e aumentar exponencialmente as chances de novas mágoas.

O amor suporta tudo, suporta as indiferenças, as traições, as decepções e as brigas. O amor é o único capaz de tornar o perdão sincero e espantar as desconfianças que minam uma relação. O amor é a única base de sustentação real de um relacionamento. O único problema, é que não sei se o amor existe de verdade, mas prefiro confiar que sim.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Salve-me

Alguém me salve de mim mesmo
Das mentiras que criei
Das verdades que falei
me salve da minha auto-flagelação

Alguém me salve de mim mesmo
dos perigos que procuro
do meu medo inseguro
do meu pavor irracional

Alguém me salve de mim mesmo
Se não por amor, por piedade
Se não por autruísmo, por vaidade
mas me salve das minhas meias verdades

Alguém me salve de mim mesmo
ou me empurre deste penhasco
não finjo que adormeço
apenas finjo que não vivo

Alguém me salve de mim mesmo
antes que seja tarde
antes que se torne verdade
o medo que sinto de mim
antes que se torne começo
o que eu quero que seja fim

Alguém me salve de mim mesmo
dos pecados que cometi
e do futuro que quis para mim

Coisas Afins

Navegando no mar da inutilidade
encontro um par de velhas novidades
pessoas vacilantes a beira do precipício
tornando o que era fácil cada vez mais difícil

descubro um disco voador
que dá voos rasantes em volta do cristo redentor
um pedido de socorro que só eu vi
e que se desfez antes mesmo de partir

trocentos anos se passaram
e as coisas continuam sem mudar
uma nova paisagem, um novo lugar
é tudo igual ao que já estava lá

mudam-se os nomes
mudam-se os rostos
mudam-se os seios
mudam-se os gostos
mas tudo é em vão
o que importa não muda não.

A alma é a mesma
A ignorânica é a mesma
Os gestos os mesmos
As promessas as mesmas

O escritor sou eu
mas os fatos não sou eu que faço
não sou eu que mudo.
As paranóias sim.
Essas fazem parte de mim.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Trivialidades

Biscoito polvilho
Café fresco
Espiga de milho
olhar sem brilho

Tempo bom
A colheita feita
descansa na sombra
não faz desfeita

Atitude calma
prepara o cachimbo
descansa a alma
adormece sorrindo

O sol vai se pondo
o dia acabando
a mesa tá posta
os grilos cantando

descanso calmo
não tem tv
acende uma vela
pro santo que vê

ouvi o silêncio
beija a esposa
dorme sereno
e feliz repousa

assim foi o dia
assim foi o ano
assim foi a eternidade
simples assim
simples trivialidade

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

É isto!

Me cansei dos poemas que falam do amor
Do amor do cantador
Do amor de quem não amou
Do amor que alguém inventou
Por isto não quero mais falar disto

Não quero mais ler
Que o amor que fulano sentia
a beltrano não satisfazia
e que tudo acabou numa tarde vazia
e fria.

Não quero mais saber
Do amor eternizado
de Camões, de Vinícius
ou de outro apaixonado

Não quero mais ouvir
As músicas que falam do amor idealizado
Ou do desamor recém criado

Não quero mais escrever
as tristes rimas de dor com amor
ou as alegrias de um namorado
que se declara apaixonado

Não quero aqueles versos singelos
dedicados, limpos... Tão belos.
Não quero o sorriso da morena
nem da loira, nem da minha pequena.
(Não se vierem dos poemas)

Quero apenas sentir o gosto da vida
Sem rimas ou poesias.
Quero sentir o amor,
Mas não o que alguém criou,
definiu e divulgou.

Quero o amor como coisa simples,
como café da tarde
feito com suco de limão e biscoito água e sal.
Tudo muito simples, muito natural.
Este é o amor que eu quero.
Mas quero com uma condição,
Que venha depois do Carnaval!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Só um teste

É só um teste
Nada mais que isto
é só um teste nada científico
matemático, comportamental ou psíquico.

é só um teste, parte de um pequeno estudo
sobre este épico sentimento perdido
chamado amor, e a tanto tempo não visto

é só um teste para aqueles
que se dizem admiradores da flor do amor
mas que inutilmente tentam se afastar da dor

um teste simples, coisa pequena
perto da verdadeira razão
deste sentimento tão infame
que costuma brotar no coração
de quem se vende a uma ilusão

Tanto testei, tão pesquisei
e depois de tudo isto,
apenas de uma coisa eu sei.
A grande verdade é:
Eu nunca te amei.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sentimento Fino

O mundo gira e me leva aonde eu devia estar
Longe de você, perdido em algum lugar.
Perdido de mim mesmo, tentando me encontrar.
Perto do sol, da areia e do mar.
Sentir o chão quente,
Sentir a água fria,
Mergulhar profundo
E esquecer o que eu sentia.
Tudo bem já passou
Mas sei que não acabou
Uma coisa tão linda
Que só conheceu quem provou
Um sentimento fino
Interrompido pelo destino
Um cinza multicolorido
e o meu coração partido
Tudo bem já passou
Mas sei que não acbaou
Uma coisa tão linda
Que só conheceu quem provou

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tudo conforme o combinado

O combinado era que os dois se amassem por toda a vida.
Mas o por toda a vida se tornou um pouco mais curto, coisa de duas semanas, mais ou menos. Não que a promessa tenha sido em vão, muito pelo contrário, ele a amou por toda a vida dela. Cada segundo mágico, cada minuto interminável, cada hora que passou voando.
Não chovia até até aquele momento. Mas dali para frente a chuva não parava, ora vinha do céu, ora vinha dos olhos dele em forma de lágrimas. Lágrimas salgadas e frias, que vez ou outra, a chuva lavava.
A última palavra foi um grito abafado pelo silêncio do medo e pelo barulho de aço sendo retorcido. Depois só se ouviu sirenes e pessimismo. Ele chegou no local mais rápido do que podia sonhar em chegar um dia. Mas já era tarde. Já não havia o que fazer. Apenas, pegá-la pela mão, sentir toda frieza de um corpo sem vida e se agarrar a aliança como se isso fosse a reviver.
Ele a amou até aquele segundo, até o momento em que já não se podia fazer mais nada. E amou além também. Sofreu alguns meses. Sentia aquela ausência sufocante em todos os cômodos da nova casa. Ria ao ver aquela cortina vermelha que ele odiava, mas que ela adorava. Olhava para o albúm de casamento como se fosse possível voltar naquele tempo, parar ali e impedir que o pior acontecesse. Mas isto também passou.
Vendeu a casa, vendeu o carro, deu o cachorro para os pais e recomeçou. Algumas saídas com os amigos, outras com futuras pretendentes - Todas sem graça, é claro. E o tempo foi passando e o luto também. ele voltou a sorrir, a alegria já era uma constância e as fotos antigas tinham perdido espaço para as novas lembranças. Inclusive para o beijo que roubou de uma "amiga" após algumas doses de uma bebida colorida que ele nem se lembrava existir.
Tempos depois já estava gostando dela. Mas sentia medo de fazer planos e preferia não fazê-los. O tempo foi passando, a vida foi mudando. Mais responsabilidades, mais amizades e enfim, mais comprometimento. Decidiram se casar. Para ele uma segunda chance, para ela uma nova fase. Assim fizeram, se casaram e prometeram se amar por toda a vida. E tudo foi conforme o combinado, 2 semanas depois, lá estava ela, tentando entender tudo que estava acontecendo. Viu o corpo dele sem vida pela primeira vez e com força apertava a sua mão. Pegou sua aliança e apertou forte, como se isto o fosse trazer de volta a vida. Mas não trouxe, e ela chorou como nunca havia chorado, mas sentia-se leve por ter feito tudo conforme o combinado, por o ter o amado até que a morte os separe.